Para a vocação não há tempo, idade ou lugar. Deus nos chama sempre. Contudo, não há como questionar que a juventude é uma verdadeira “margem do Mar da Galileia” para as vocações. Período de descobertas, questionamentos e busca por um propósito significativo na vida, a juventude desempenha um papel fundamental no chamado e na vocação de cada indivíduo.

Inspirados pelas palavras do Papa Francisco na exortação pós-sinodal “Christus Vivit”, exploraremos a importância da juventude como o agora da vocação e como os jovens são convocados a responder ao chamado de Cristo.

Um tempo de discernimento

A juventude é um tempo de discernimento singular, no qual os jovens estão imersos em um processo de descoberta de si mesmos e de sua relação com Deus. Nesse estágio da vida, são confrontados com múltiplas possibilidades e escolhas que moldarão o seu futuro.

É nesse contexto que a voz do Papa Francisco, em “Christus Vivit”, ressoa com particular importância. Ele nos recorda que a juventude não é um período de transição ou espera, mas sim um momento privilegiado para buscar a vontade de Deus e discernir a própria vocação.

Nessa jornada de discernimento, os jovens são incentivados a não deixar que sua idade seja um obstáculo para a expressão de sua fé e de seu chamado. O apóstolo Paulo nos exorta com as palavras: “Não deixe que ninguém o despreze por você ser jovem, mas seja um exemplo para os fiéis na palavra, no procedimento, no amor, na fé e na pureza” (1 Timóteo 4,12). Essa passagem bíblica nos lembra que os jovens têm a capacidade de influenciar positivamente a comunidade com seu testemunho de vida e sua busca constante por Deus.

Ao enfrentar as escolhas e os desafios próprios da juventude, é essencial que os jovens busquem o auxílio de mentores e guias espirituais experientes, que possam acompanhá-los nesse processo de discernimento. Esses orientadores, inspirados pela sabedoria da Igreja, podem ajudar os jovens a compreender seus dons, talentos e inclinações naturais, bem como a escutar a voz de Deus que sussurra em seus corações.

A juventude, enquanto tempo de discernimento, é uma oportunidade de aprofundar a relação pessoal com Deus, através da oração e do estudo das Sagradas Escrituras. É um momento de abrir o coração para acolher a vontade do Pai e buscar uma sintonia entre os desejos mais profundos da alma e os desígnios divinos. À luz da passagem de Jeremias 29,11, na qual Deus diz: “Porque sou eu que conheço os planos que tenho para vocês, diz o Senhor, planos de fazê-los prosperar e não de lhes causar dano, planos de dar-lhes esperança e um futuro”, os jovens são convidados a confiar na providência divina e a entregar seus caminhos nas mãos de Deus.

Protagonista na missão da Igreja

A juventude desempenha um papel fundamental como protagonista na missão da Igreja. Inspirados pelo exemplo dos discípulos de Jesus, que foram chamados a “fazer discípulos de todas as nações” (Mateus 28,19), os jovens são convocados a ser testemunhas vivas do Evangelho no mundo. A vitalidade e o entusiasmo dos jovens são fontes de renovação para a Igreja e para a sociedade como um todo.

A vocação dos jovens vai além de uma participação passiva na comunidade eclesial. Eles são chamados a assumir um papel ativo e engajado, contribuindo com seus talentos, ideias e energia para a construção do Reino de Deus. Eles têm a capacidade de trazer uma nova visão, um frescor evangelizador e uma criatividade que podem revitalizar a Igreja em sua missão de anunciar o amor e a salvação de Cristo. Para além de que são o futuro, os jovens são também o agora da Igreja.

Os desafios da juventude e a resposta ao chamado

A juventude também enfrenta desafios únicos em sua jornada de resposta ao chamado de Cristo. Vivemos em uma época marcada pela velocidade, pelas influências culturais e pela busca incessante por prazeres efêmeros. Os jovens são confrontados com pressões sociais, tentações e uma cultura que muitas vezes os afasta dos valores evangélicos, uma “cultura do descarte”, uma “cultura da indiferença”.

Nesse contexto desafiador, é essencial que os jovens estejam conscientes desses desafios e se fortaleçam em sua fé para enfrentá-los. A resposta ao chamado de Cristo requer coragem, perseverança e uma busca constante por uma vida de santidade. Os jovens são chamados a resistir às tentações do mundo e a viver de acordo com os princípios do Evangelho. O Papa Francisco nos encoraja a não ter medo de sermos santos e a não nos conformarmos com uma vida medíocre. Ele nos lembra que somos chamados a grandes ideais e a uma plenitude de vida que só pode ser encontrada na entrega total a Deus e ao serviço aos outros.

Nesse sentido, é fundamental que os jovens se apoiem mutuamente em sua caminhada de fé, formando comunidades autênticas de discípulos missionários. O acompanhamento mútuo, a oração em conjunto, a participação nos sacramentos e a busca constante pela formação cristã são meios eficazes para enfrentar os desafios e crescer na resposta ao chamado de Cristo.

A juventude é chamada a ser protagonista na missão da Igreja, trazendo sua vitalidade, criatividade e entusiasmo para a evangelização do mundo. Apesar dos desafios, os jovens são convidados a não se desencorajar, mas a confiar na graça de Deus e a abraçar a vocação que Ele tem para cada um. Que os jovens, conscientes de seu papel único na história da salvação, sejam luz e esperança em um mundo sedento do amor e da misericórdia porque, como nos diz o Papa Francisco, Deus também é jovem.

Referências

AO SEU LADO: Plano trienal da Pastoral Juvenil para 2023-2025. Disponível em https://jovensconectados.org.br/mdocs-posts/ao-seu-lado-plano-nacional. Acesso em 2.jun. 2023

CNBB. Evangelização da juventude: Desafios e perspectivas pastorais. Documento 85. Disponível em: https://www.jovensconectados.org.br/documentos/Documento_85_CNBB.pdf.

PAPA FRANCISCO. Deus é Jovem. São Paulo: Editora Planeta, 2018.

PAPA FRANCISCO. Christus Vivit. Exortação Apostólica Pós-Sinodal sobre os jovens, a fé e o discernimento vocacional. Disponível em https://www.vatican.va/content/francesco/pt/apost_exhortations/documents/papa-francesco_esortazione-ap_20190325_christus-vivit.html Acesso em 2.jun. 2023