Pe. Armando Nocheti de Souza
Coordenador de Imprensa do SAV PV Nacional
O ser humano, como um ser que decide, é capaz de discernir e assumir com responsabilidade suas decisões. A vocação é um chamado de Deus e uma resposta do homem, em meio a um diálogo que se constitui através do discernimento consciente, permeado da liberdade de escolha, impulsionado pelo compromisso na tomada de decisão com responsabilidade.
Supõe que a pessoa já tenha tido algum contato com Jesus, através de uma fé embrionária que precisa crescer e se discernir. É necessário ajudar essa pessoa nesse processo de crescimento e amadurecimento da fé em contexto eclesial. Acompanhar a pessoa, para que se torne discípula missionária; transformando a fé inicial em fé adulta. A fim de levar ao encontro que aprofunda, intensifica, amplia e expande, à ampliação do desejo de receber o sacramento para uma vivência da fé; conduzida pelas experiências com o Senhor; em que a pessoa possa descobrir seu lugar na Igreja e no mundo.
Sendo assim, é necessário fazer uma analogia entre a vontade de sentido da vida e o desejo vocacional. A fim de que a pessoa possa experimentar o amor e trabalhar pelo discernimento vocacional através de uma prática de amadurecimento que levará a um sentido vocacional.
Não podemos negar o vazio existencial como oportunidade de passagem do vácuo que se instaura pela crise vocacional para os enfrentamentos, de modo que traga o sentido da vida. Questionar as próprias convicções é aprender a dar razão à própria fé. Dar sentido novo à sua fé é valorizar as várias dimensões da fé. Aderir a uma comunidade é ter uma participação mais consciente e ativa, é respeitar o pluralismo sem ceder ao relativismo; sentir necessidade de um referencial superior; buscar uma ligação maior entre fé e vida; ter mais sensibilidade para os valores religiosos; sentir a necessidade de uma formação continuada; estar mais aberto ao horizonte religioso; e comprometer-se com as buscas e lutas coletivas. Adquirir uma fé mais pessoal é internalizar a fé. Interpretar essa situação como apelo de Deus e oportunidade privilegiada de evangelização é não só exigência da fé, mas exercício da inteligência.
O ser humano, como um ser que decide, é capaz de discernir e assumir com responsabilidade suas decisões. A vocação é um ato de discernimento consciente, permeado da liberdade de escolha, impulsionado pelo compromisso na tomada de decisão com responsabilidade.
A pessoa tem condições de abrir-se para além de sua conotação egoísta e estabelecer vínculos com o Transcendente, transcendendo também sua maneira de enxergar o mundo que a cerca, as coisas e as pessoas. No exercício da autotranscendência, a pessoa está aberta a relações de comunhão. A comunhão, por sua vez, é a indicação de ser-em-si para ser-para-o-outro, ou seja, quanto mais ele se compreende diante de Deus, de tudo o que se liga a Ele, afirma-se a construção da identidade do eu, da pessoa. Nessa autotranscendência, no exercício de sair de si, o ser humano é recordado de algo que está no seu âmago, a inquietação da busca. Falar de ser humano é falar também de inquietações, buscas, insatisfações, aberturas, transcendências. Quanto mais a pessoa se doa, o encontro com o sentido descortina-se como revelação daquilo que se inicia em um diálogo interno e tem seu ápice na manifestação da entrega.
Somente por atos conscientes e responsáveis a pessoa seria capaz de assumir posicionamentos diante da vida e diante das propostas “vocacionais”, mediante o paralelo com a escala de valores apreendida pela pessoa. O ser humano, como um ser que decide, é capaz de discernir e assumir com responsabilidade suas decisões. Fato interessante e importante! A vocação é um ato de discernimento, a consciência diante de uma responsabilidade ou responsabilidades das pessoas. Tudo é permeado com o ligame da liberdade, que impulsiona o compromisso da tomada de decisão e, por sua vez, da responsabilidade.
Conhecer, responder na liberdade e tornar-se responsável formam um tripé que sustenta as decisões, entre elas, a decisão vocacional. A liberdade é o espaço onde a pessoa é responsável pela transformação e pelo protagonismo na própria existência. As nossas escolhas e as nossas decisões de resposta a Deus e à vida fazem-nos assumir as responsabilidades que seguirão no descortinar da vida. Liberdade e responsabilidade são condições para uma resposta vocacional realmente verdadeira e sem pretensões. Falar de vocação também é falar de liberdade. Liberdade de eleições, de escolhas e de respostas. A pessoa é criada “na” e “para a” liberdade, e cada realidade de vida, no conjunto vocacional, encontra o seu sentido e valor em referência à sua liberdade e à liberdade alheia.
Para os cristãos, dialogar sobre o sentido da vida tem uma vertente que vale ser levada em consideração quando enfatizamos que o sentido da vida humana é fazer de si mesmo um dom a Deus e ao próximo. Nisso consiste a comunhão com Deus no próximo. O consumir a vida por uma causa, em uma comunhão e configuração com Deus, através da sensibilidade ativa com os outros, é capaz de orientar e significar a vida do ser humano. A comunhão com Deus leva consequentemente a uma comunhão com a humanidade, pois Deus se faz humanidade. Oferecer-se, encontrando a liberdade de sentido e o sentido da liberdade, na proposta de entrega, direciona a convergência tão almejada pelo ser humano: direcionar sua existência para aquilo que é capaz de dar significado, tendo como fonte Aquele que se faz Significante. Deus chama-nos na profundidade de nosso coração, ou seja, na vontade de sentido e no desejo vocacional. Uma vida cheia de sentido nunca acaba, ela se consome em vista de algo até configurar-se plenamente a esse algo.
Pensar a vocação na referência da vontade de sentido ou do desejo, enquanto encontro com o Transcendente que é capaz de completar aquilo que falta na pessoa, interpela a uma nova compreensão do que realmente é vocação. Ela não é apenas um chamado vislumbrado em uma necessidade de sentido com uma única resposta ao chamado para encontrar o sentido. Antes, a vocação é um contínuo chamado que faz construir respostas ao encontro com o Sentido, através de experiências cotidianas. No itinerário desse processo, o desejo vocacional, a vontade de sentido parte da frustração ou do vazio e projeta-se Naquele que é capaz de dar o sentido mais pleno. A proposta de compreender a vocação como processo que desembocará em um transbordamento das experiências vivenciadas no desenvolver da existência é que nos levará ao encontro definitivo com o Desejado. Só poderá saciar-se do Desejo a pessoa que é capaz de decidir-se. Desejo e decisão são duas faces de uma única moeda que estabelecem o elo da dimensão vocacional e são inseparáveis. O desejo e a decisão são elementos fundamentais a serem trabalhados na Pastoral Vocacional.