Marcus Tullius
A Igreja no Brasil tem a oportunidade, anualmente, desde 1981, de dedicar o mês de agosto à celebração e oração pelas vocações. Todas as comunidades eclesiais unidas em torno de uma única temática, à luz do Mistério Pascal de Cristo, numa grande polifonia, pedindo ao Senhor da messe que envie numerosos operários e operárias para a colheita (cf. Mt 9,38). Olhamos para as vocações específicas, uma a cada semana, sem perder de vista o horizonte de todos os chamados. Todos somos chamados!
Tomar consciência de que celebramos todos os chamados também nos ajuda, enquanto igreja, a atingir o objetivo do 3º Ano Vocacional do Brasil: “promover a cultura vocacional nas comunidades eclesiais, nas famílias e na sociedade, para que sejam ambientes favoráveis ao despertar de todas as vocações como graça e missão, a serviço do Reino de Deus”. Quando assumimos juntos, como Igreja, esse compromisso, adubamos o nosso chão para que as sementes fecundem abundantemente. Não podemos terceirizar a responsabilidade vocacional, pensando que o chamado é sempre para o outro. O chamado é para todos e todas e acontece de forma concreta e próxima de cada um de nós.
Vocação é resposta a um chamado e quem chama é Deus. Pode parecer óbvio dizer essa relação de chamado e resposta, mas, a cada repetição, tomamos consciência desse movimento que não é mérito humano, mas graça! Sempre que recordamos essa relação dialógica entre chamado e resposta, abrimos espaço para que o Espírito Santo seja protagonista nesse processo de discernimento.
Por mais que a resposta seja individual e intransferível, ela não é egoísta. Ao contrário, a resposta ao chamamento coloca-nos na dinâmica da alteridade, do serviço e da comunidade eclesial em que estamos inseridos. Ela também é corresponsável nesse processo, por isso a importância de se rezar por todas as vocações. A comunidade que insere a dinâmica vocacional no seu cotidiano celebrativo, catequético e pastoral colhe frutos abundantes.
Corremos o risco de pensar que a resposta é um dado pronto e acabado. O sim se renova dia a dia no exercício da missão, convertendo-se num processo dinâmico e aberto, construído ao longo do caminho, com a participação do Espírito Santo e da comunidade. Somente quem coloca os pés no caminho e sente o seu coração arder todos os dias consegue dizer sim a esse chamado e renová-lo todos os dias.
Celebrar o mês vocacional e o ano vocacional no contexto do sínodo sobre sinodalidade é, também, a oportunidade de rezar por todas as vocações numa perspectiva sinodal, na certeza de que nenhuma vocação é melhor do que a outra. Tendo o Batismo como fonte de todas as vocações, assim como rezamos no 2º Ano Vocacional, em 2003, devemos aproveitar essa porta aberta para a vivência da fé em comunidade e alargá-la no sentido ministerial.
O Instrumentum Laboris para a primeira sessão do Sínodo destaca, nas fichas sobre o eixo da Missão, “uma certa urgência em discernir os carismas emergentes e as formas adequadas de exercício dos Ministérios batismais (instituídos, extraordinários e de fato) no seio do Povo de Deus, participante da função profética, sacerdotal e real de Cristo”.
Parafraseando o Papa Francisco que, no cinquentenário do Sínodo dos Bispos, em 2015, afirmou que “uma Igreja sinodal é uma Igreja que escuta”, podemos afirmar que uma Igreja vocacional é também uma Igreja que escuta: escuta o Espírito, escuta a Palavra, escuta os seus membros, escuta as necessidades locais. Ninguém responde bem se antes não escutar, por isso essa dimensão está presente no discernimento e é algo integral.
Assim como o Papa Francisco em seu primeiro encontro com os jovens na Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa, afirmou que na Igreja há lugar para todos e enfatizou “todos, todos, todos”, também essa deve ser a nossa afirmação vocacional. Na Igreja há vocação para todos, todos, todos. Descubramos a nossa vocação e respondamos, dia a dia, a esse chamado.
Marcus Tullius é Coordenador-geral da Pascom Brasil, membro do Grupo de Reflexão sobre Comunicação da CNBB e da Comissão de Comunicação do Ano Vocacional. É mestrando em Comunicação Social pela PUC Minas e apresentador do programa Igreja Sinodal em emissoras de inspiração católica.