Dom Juarez Albino Destro, rcj
Bispo Auxiliar de Porto Alegre
De 20 de novembro de 2022 a 26 de novembro de 2023 a Igreja do Brasil celebrou o seu 3º Ano Vocacional do Brasil, com o objetivo de “promover a cultura vocacional nas comunidades eclesiais, nas famílias e na sociedade, para que sejam ambientes favoráveis ao despertar de todas as vocações, como graça e missão, a serviço do Reino de Deus”. Recordo, com sentimentos de gratidão, alegria e esperança, todo o movimento criado, equipes se reunindo, subsídios elaborados, eventos promovidos, reflexões, interesses, expectativas… Dois anos após a conclusão daquela bela experiência, o que continua a aquecer o nosso coração ou quais ressonâncias permanecem vivas em nossa ação pastoral?
No campo da Cultura Vocacional, certamente aquele ano ajudou numa melhor compreensão do conceito. Se antes falávamos de “vocacionalizar” as pastorais, agora sabemos que se trata de uma integração entre todas as pastorais e movimentos existentes numa comunidade eclesial. Tal compreensão veio enriquecida com o Documento Conclusivo da 16ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, com o tema: “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão”. Um texto vocacional, com elementos vocacionais na descrição dos títulos dos capítulos – chamados, barco, rede, pesca, envio – e um conteúdo que deixa evidente a Igreja, povo de Deus, unida, em comunhão, na diversidade de carismas e ministérios, num intercâmbio de dons, juntos, em missão… Ao estudarmos o Documento em nossas comunidades eclesiais, nessa etapa de implementação do Sínodo, estaremos animando tais comunidades para que sejam comunidades vocacionais, como afirma o Texto-base do próximo Congresso Vocacional do Brasil, lançado em agosto passado.[1]
Na dimensão da espiritualidade e, especificamente, da oração pelas vocações, o Ano Vocacional estimulou e fortaleceu uma Leitura Orante e Vocacional da Palavra, envolvendo crianças, catequistas, jovens, famílias, numa diversidade de subsídios. Permanece o desafio de avançar, sempre mais, nessa dinâmica, sobretudo com a formação de catequistas das várias etapas da Iniciação à Vida Cristã (IVC), deixando claro que eles e elas, os educadores da fé, são essencialmente animadores vocacionais. Necessitamos sempre, permanentemente, formar pessoas para a orientação espiritual, com qualidade, desinteressada e capaz de apresentar ao jovem a riqueza da Igreja em sua diversidade vocacional.
Quanto ao Itinerário Vocacional, aquele Ano Vocacional tentou mostrar que os processos exigem atenção à integralidade da pessoa daquele ou daquela que está sendo acompanhado. Compreender a estrutura humana do jovem, suas forças e fragilidades, conhecer sua família, são atitudes que devem estar presentes na ação do animador vocacional e na comunidade como um todo. Fundamental que os membros da equipe vocacional ou Serviço de Animação Vocacional (SAV) estejam próximos das pastorais e movimentos juvenis, da catequese (IVC) e da pastoral familiar. Por outro lado, como estratégia, seria muito bom que nas equipes vocacionais ou no SAV Paroquial fizessem parte representantes da juventude, da IVC e da pastoral ou movimento familiar. Desafios permanentes devem ser abraçados por essas equipes ou SAV, como, por exemplo: o acompanhamento de adolescentes e jovens em vista da elaboração de seus Projetos Pessoais de Vida; o encorajamento ao seguimento de Jesus; a organização de missões populares envolvendo os jovens em vista da renovação de experiências de fé e de projetos vocacionais; a oportunidade para que os jovens criem novas formas de missão, incluindo as redes sociais. A responsabilidade pelo despertar vocacional é de todos, não apenas do animador vocacional. Neste sentido, a comunidade é animadora vocacional!
Em relação aos planos vocacionais, é importante saber a importância de sua elaboração. Metas, etapas, passos e itinerários devem ser construídos de modo participativo e continuamente avaliados. Prever o fortalecimento ou a criação de equipes vocacionais ou SAVs, seja em âmbito paroquial ou diocesano, investindo na formação de seus membros, é um dos primeiros objetivos de um plano de ação. Integrar o SAV com as demais pastorais e movimentos na ação evangelizadora é uma necessária estratégia. Devemos fortalecer a compreensão de que o SAV seja um instrumento de integração da ação pastoral. Antigamente se falava em “pastoral de conjunto”, algo que permanece bem atual: cristãos leigos e leigas, pessoas de vida consagrada e ministros ordenados chamados a trabalhar em conjunto, no mesmo barco, lançando as redes para a pesca, a missão!
[1] CNBB. Texto-base do 5º Congresso Vocacional do Brasil; Comunidades Vocacionais: encontro, testemunho, missão. Brasília, Edições CNBB, 2025. O Congresso Nacional deve ser precedido por Congressos Regionais, Diocesanos e Paroquiais, num processo sinodal.