Pe. Rodolfo Chagas Pinho
(Assessor da Comissão Episcopal Vida e Família da CNBB)
O Papa Francisco, em seu magistério pontifício, dedica-se muito às realidades das famílias, sem medo de enfrentar os desafios atuais; resultado desta dedicação foram os dois sínodos sobre família culminando com a importante e magistral Exortação Pós-Sinodal Amoris Laetitia, promulgada em 08 de abril de 2016.
Em comunhão com o Sucessor de Pedro, a Pastoral Familiar no Brasil tem se dedicado a ajudar as famílias com diversos itinerários, pois existe convicção de que o matrimônio sagrado é uma vocação, um chamado do Divino Mestre que continuamente passa pelas mídias sociais, ruas, universidades, campos, metrópoles e outros areópagos, convidando homens e mulheres ao matrimônio.
A família é comunidade humana, reflexo da Trindade, onde há diálogo, comunhão, participação, generosidade, partilha. A missão dos batizados tem origem e fim na Santíssima Trindade e o processo de evangelização através da vocação matrimonial tem como missão fazer o gênero humano participar da comunhão que existe entre o Pai e o Filho e o Espírito Santo. E como imagem da Comunidade-Igreja, a família possui a incumbência de ser “célula mãe” da sociedade, como ensina São João Paulo II, na Exortação Apostólica Familiaris Consortio: lugar de instruir-se os valores humanos/afetivos e o principal: amor-caridade (FC 42). É, se não único, o fundamental lugar de aprendizado de Ser humano – celeiro onde surgem todas as vocações.
Urge mostrar esta realidade vocacional familiar ao mundo, para que de fato as famílias sejam uma pequena comunidade de iniciação à vida cristã. Desde à concepção humana – com o itinerário Catequese desde o Ventre Materno – elaborado pela Comissão Episcopal Vida e Família promove-se, defende-se e cuida-se da vida em sua integralidade, justamente por acreditar na vida desde sua concepção. Com a consciência de pertença à Cristo, a família educa sua prole através da evangelização, cria a índole de ser portadora da salvação que Cristo dá continuamente à humanidade em sua obra salvífica.
Em tempos de liquidez, onde tudo se desfaz facilmente, relações frágeis e quebradas, em uma cultura urbana onde não há homogeneidade, a família é a guardiã do anúncio da Boa Nova como alicerce matrimonial para crescer no amor e na alegria como exorta Papa Francisco no texto da Exortação Amoris Laetitia, mantendo-se firme em sua vocação: olhar fixo em Jesus que ensina ver, sentir e tocar as feridas humanas que afetam nossas casas (AL 58-88).
Neste caminho vocacional, o Itinerário para Namorados é outra proposta da Pastoral Familiar, o qual visa auxiliar nossos adolescentes e jovens a darem passos firmes no caminho que estão trilhando rumo ao altar, uma vez que, toda vocação se realiza diante daquele que chama, ou seja, Nosso Senhor e Redentor, Jesus Cristo.
É um caminho de conversão que a Igreja como um todo necessita encarar, ao passo que nossa eclesiologia culmine, de fato, em um processo de comunhão, com único objetivo de evangelizar a partir Dele que é o Caminho, a Verdade e a Vida.
Atualmente, não há espaço na Igreja para o pensamento de que a pastoral seja evento! O próprio nome já diz: evento é sopro! Passa rápido!
Nesse sentido, a preparação para o matrimônio não pode ser rápida como as mudanças tecnológicas, haja vista que se está diante de um sacramento, e justamente por sua sacralidade, implica, posteriormente, à formação humana, portanto é proposto pela Igreja no Diretório de Catequese, um caminho com inspiração catecumenal, ou seja, um verdadeiro caminho pedagógico, que consiste um “tomar pela mão”, como dito acima, desde o início da vida e percorrer juntos, em comunidade, este caminho em cada etapa da vida humana.
O Itinerário Vivencial de Acompanhamento Personalizado para o Sacramento do Matrimônio em continuidade ao caminho percorrido, serve de preparação imediata, excluindo os conhecidos “cursos de noivos”, tanto na linguagem como na estrutura e resultado.
Esses “cursos” não evangelizam, apenas informam. O que nosso Senhor espera dos batizados é um compromisso com a vocação matrimonial, como resposta ao mundo atual que desfaz as relações humanas instantaneamente nas primeiras contrariedades, visto que a alteridade tornou-se problema e não oportunidade de crescimento humano/afetivo.
Como ensina São Mateus: “Quem ouve estas minhas palavras e as põem em prática é como o homem prudente que construiu a sua casa sobre a rocha, vieram as chuvas, os ventos deram contra a casa, mas ela não caiu, porque estava alicerçada sobre a rocha” (Mt 7,24-27). Sem o encontro pessoal com o amor de Jesus não há resposta ao chamado. Toda vocação é resposta a um Amor Primeiro e maior que todos os outros, como nos afirma João: “o que nós vimos e ouvimos, isso anunciamos” (1Jo 1,3).
O Documento de Aparecida insistentemente exorta: “conhecer Jesus Cristo pela fé é nossa alegria; segui-lo é uma graça, e transmitir este tesouro aos demais é uma tarefa que o Senhor confiou ao nos chamar e nos escolher”(DAp 18). Percebe-se que muitos irmãos e irmãs não receberam o anúncio, estão caminhando às apalpadelas, no escuro, segurando-se onde podem e conseguem, pois a alegria dos batizados/evangelizados não está contagiando os batizados/não evangelizados. Perdeu-se a centralidade do anúncio.
O Papa Francisco, na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual, convida toda a Igreja a retomar alegria do anúncio, centralidade da nossa missão que é a mesma missão de Jesus: anunciar o Evangelho (Mc 1,14).
A ausência de acolher o matrimônio como vocação e olhar integralmente o ser humano afeta-se profundamente as realidades familiares. Consequência dessa não aceitação vocacional em toda a vida é que surge o rompimento matrimonial: o divórcio.
O desejo de nosso Senhor e de toda Pastoral Familiar do Brasil é que não se chegue à ferida dolorosa da separação, portanto, dar uma nova oportunidade ao Evangelho é o cenário saudável e atual da caminhada cristã, pois alcança-se acolhida a todos, sem esquecer as famílias em novas uniões.
Assim, diante do discípulo existem dois caminhos: permanecer paralisados na manutenção da estrutura dentro de uma tibieza pastoral ou convertê-la em missão permanente na alegria de apresentar Aquele que é a razão e sustentação de toda vocação acertada: Cristo Jesus nosso Senhor. O caminho está à frente, o que escolher?
O convite é a escolha por um olhar de esperança diante dos desafios atuais; há muitos machucados por falta de uma “casa de iniciação à vida cristã”.
Uma proposta eclesiológica é caminhar, percorrer o itinerário sem medo de anunciar o matrimônio nesta sinfonia vocacional da concepção até a morte natural. “Todos somos chamados a manter viva a tensão para algo mais além de nós mesmos e dos nossos limites, e cada família deve viver neste estímulo constante. Avancemos, famílias; continuemos a caminhar! Aquilo que se nos promete é sempre mais. Não percamos a esperança por causa dos nossos limites, mas também não renunciemos a procurar a plenitude de amor e comunhão que nos foi prometida” (AL 325)